Engenheiro agrônomo e pesquisador analisa causas e impactos da quebra registrada na colheita brasileira do grão nesta temporada
Os produtores de milho 2ª safra intensificaram as atividades no campo com a colheita da safra 2021, principalmente nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. E as médias de produtividade estão muito aquém daquelas obtidas na safra 2020, muito em função da inadequada época de semeadura, adversidades climáticas e crescente ataque de pragas específicas.
O milho 2ª safra é semeado logo após a colheita da soja, entre os meses de janeiro e fevereiro. Neste ano, em muitas regiões os plantios estenderam-se entre março e abril. Isso porque as chuvas da primavera/verão para a semeadura da soja iniciaram-se de forma tardia devido à forte influência de La Niña, atrasando o plantio e, consequentemente, a colheita da oleaginosa.
Considerando aspectos agronômicos, uma janela de semeadura ideal deve favorecer o máximo potencial produtivo da cultura tendo em conta fatores climáticos relevantes à fisiologia das plantas, como a radiação solar, temperatura e disponibilidade hídrica.
Neste contexto, não é novidade ao produtor que semeando o milho fora da janela recomendada, haveria menor captação solar pela planta, redução do potencial produtivo e aumento do risco econômico. Contudo, expectativas de preços altos do cereal estimularam o produtor a seguir os plantios mesmo fora da época ideal. Por exemplo, estima-se que 45% de todo milho cultivo no Mato Grosso foi semeado entre março e abril.
Se não bastasse, o produtor não esperava por uma estiagem prolongada. Isto ocorreu, pois as águas do oceano Pacífico Leste esfriaram muito em março, causando um bloqueio atmosférico onde as frentes frias, que causam chuvas, não conseguiram avançar para o continente.
Dessa forma, as lavouras semeadas tardiamente receberam pouco volume de chuvas, sobretudo em épocas cruciais ao desenvolvimento das plantas como na fase de florescimento e enchimento de grãos.
Como consequência do fracasso no desenvolvimento das lavouras, muitos produtores optaram por reduzir o nível de investimento planejado inicialmente, suspendendo, por exemplo, aplicações de fertilizantes em cobertura, e proteção de cultivos como fungicidas e inseticidas. Isso favoreceu ainda mais a amplitude de dano nas lavouras causada pela cigarrinha do milho (Dalbulus maidis), inseto-vetor de molicutes, bactéria esta causadora da doença de enfezamento do milho.
Todos esses fatores explicam, em partes, a obtenção de produtividades médias até 80% menores daquelas alcançadas na safra passada. Neste momento há produtores no Mato Grosso colhendo em torno de 50 sacas por hectare de milho, praticamente 1/3 da produtividade obtida na safra 2020. Já no Mato Grosso do Sul e Paraná, há lavouras rendendo 40 sacas por hectare e outras que tão pouco serão colhidas.
"Não é novidade ao produtor que, semeando o milho fora da janela recomendada, haveria menor captação solar pela planta, redução do potencial produtivo e aumento do risco econômico," disse Luiz Tadeu Jordão.
A projeção inicial de produção foi estimada em 76, 7 milhões de toneladas de milho 2ª safra para 2021 (Conab), com produtividade média de 93 sacas por hectare. Contudo, considerando a área final plantada de 14,9 milhões de hectares e o início da colheita nas principais regiões produtoras, é difícil imaginar produtividade média nacional acima de 70 sc/ha. Será que colheremos, pelo menos, 60 milhões de toneladas de milho 2ª safra?
O alento dos produtores está no preço. Estoque mundial baixo, restruturação do rebanho suíno chinês de forma profissionalizada a partir do consumo de ração, forte demanda interna brasileira e aumento do consumo de etanol de milho fortalecem as projeções de preços altos até final do ano.
Por fim, evidentemente, a água é o fator mais limitante à produção agrícola. Contudo, o produtor deve atentar-se que o fracasso da sua lavoura não é exclusivamente causado pelo clima, e sim também pela má gestão dos processos agronômicos e operacionais da fazenda.
Na atualidade, com preços bastante remuneradores, frustrações de safra podem ser superadas. Mas nem sempre será assim. É necessário que o produtor profissionalize sua atividade agrícola como uma empresa, e não apenas como uma roça onde coloca-se toda sua paixão sem medir gestão.
Fonte da notícia: Revista Globo Rural
*Luiz Tadeu Jordão é engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Agricultura, pesquisador do Portal Ciência do Solo e professor convidado do SolloAgro Esalq – USP Piracicaba.
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